Costumo contar entre amigos uma história sobre comércio & turismo que vivi anos a fio na Zambujeira-do-Mar. Passava-se na padaria, onde chegava sempre em cima da hora de fecho para comprar o pão.
No Inverno, a padeira era esclarecedora:
- Já não tenho pão! Então, estamos no Inverno, isto tem pouca gente, faço pouco pão, vende-se todo...
No Verão, a padeira era esclarecedora:
- Já não tenho pão! Então, estamos no Verão, isto está cheio de gente, vendo o pão todo...
E assim vivia eu (quando me esquecia de “reservar pão”...), a penar os excessos do Verão e as faltas do Inverno. A padeira da Zambujeira-do-Mar nunca fez contas ao dinheiro que não ganhou, ou ao dinheiro que poupou. Para ela era simples: este é o meu negócio e é feito assim.
Julgava que a coisa era típica dos lugares menos desenvolvidos, menos formados e aptos para o negócio, menos ligados aos fluxos sazonais. Mas não.
No fim-de-semana do 25 de Abril, com sol em Lisboa e gente na rua, aterrei num espaço todo moderno, todo fashion, seguindo uma recomendação da crítica gastronómica sobre brunch na capital. O lugar chama-se “Cais do Chiado” e fica na Rua do Alecrim. Entrei pouco antes das 4 da tarde e perguntei pelo famoso brunch...
- Sabe lá, disse a simpática senhora que recebia, isto hoje foi uma enchente, olhe, acabou tudo, não temos nada para comer...
Já me tinha lembrado da padeira da Zambujeira quando, nos primeiros dias com sol e calor, fui aos Meninos do Rio e ouvi a empregado dizer que “não esperávamos tanta gente de um dia para o outro”... Agora, no sofisticado “Cais do Chiado”, confirmei a mais velha ideia sobre a urbanidade: é como nos outros sítios, mas com layout.
Em blog de Pedro Rolo Duarte (link)
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